O fato de a Argentina ter altas necessidades de financiamento, opinou Abram

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O GLOBO – Após a elevação dos juros em 40% na semana passada, a Argentina volta a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Em pronunciamento de três minutos nesta terça-feira, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou que começou negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para a liberação de um empréstimo. O país, que desde 2006 não tinha financiamentos com o Fundo, está em meio à uma turbulência financeira que provocou uma forte desvalorização da moeda .

Macri afirmou que tinha conversado com a diretora-geral do FMI, a francesa Christine Lagarde, mas não revelou o montante de recursos pedido pelo país. O jornal “Clarín” e a agência de notícias “Bloomberg” afirmam que o volume é de pelo menos US$ 30 bilhões.

— Há minutos conversei com Christine Lagarde, diretora do FMI, que nos confirmou que vamos começar hoje mesmo a trabalhar em um acordo. Isso vai nos permitir avançar neste plano de crescimento e desenvolvimento, para nos dar respaldo para enfrentar esse cenário global e evitar a crise que estamos tendo — disse.

— Esse política depende muito do financiamento externo. Durante os primeiros anos contamos com um contexto mundial muito favorável, mas isso hoje está mudando — explicou o presidente.

Dependência de financiamento externo

Macri destacou que “as condições mundiais estão cada dia mais complexas”, por fatores como alta de taxa de juros, preço do petróleo, desvalorização da moeda.

— O problema é que somos dos países do mundo que mais dependem de financiamento externo, resultado do enorme gasto público que herdamos – disse o presidente, fazendo referência aos governos anteriores.

Corrida ao dólar derruba peso

A Argentina tem vivido nos últimos dias uma corrida ao dólar que derrubou o peso argentino: a desvalorização chega a quase 15% desde o início do ano. O mercado financeiro, que vinha aplaudindo o mandato de Macri, agora tem dúvidas sobre a capacidade da economia argentina, ainda altamente dependente de financiamento externo.

A tensão da moeda aumentou na semana passada, a partir da alta das taxas de bônus do Tesouro nos Estados Unidos – que provocou a desvalorização das moedas da região.

‘Desenvolvimento positivo’

Em relatório a clientes, o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos, responsável pela análise da América Latina, classificou o anúncio de uma negociaçao com o FMI como “um desenvolvimento positivo”, por aumentar o poder do Banco Central de intervir no mercado e conter a desvalorização do peso argentino. Ele apontou que o montante de US$ 30 bilhões – citado como o valor do empréstimo – é razoável, mas pode ser considerado limitado pelo mercado dependendo da natureza e da intensidade da pressão do câmbio.

Na Argentina, os analistas não foram surpreendidos com a decisão de Macri, como Aldo Abram, diretor da Fundação Liberdade e Progresso, que há vários meses vinha alertando sobre as falências do Banco Central da República Argentina (BCRA) e, principalmente, a vulnerabilidade do país em casos de choques externos.

O fato de a Argentina ter altas necessidades de financiamento, opinou Abram, colocava o país em situação delicada, caso os mercados se tornassem mais adversos para o país. E foi exatamente o que aconteceu:

– Não tínhamos outra opção a não ser pedir ajuda ao Fundo. O país não precisa de recursos de forma imediata, o que precisa é acalmar os mercados.

As turbulências dos últimos dias, assegurou o economista, “despertaram muitas dúvidas sobre o futuro”.

– Não podemos descartar que o mundo fique mais complicado, muitos tememos que isso possa acontecer. E nesse cenário a Argentina precisa de uma garantia para continuar sendo um país confiável _ explicou Abram.

Até o segundo semestre do ano passado, a Argentina parecia viver num mundo cor de rosa. A economista Marina Dal Poggetto disse que, “para o mercado éramos a Dineylândia e Macri tinha sua reeleição garantida em 2019″.

– Não fazia sentido, já que os desequilíbrios que tínhamos são os mesmos que temos hoje. Mudou o humor do mercado – afirmou, destacando a falta de coordenação na equipe econômica.

Para ela, é difícil imaginar cenários a partir de agora, mas está claro que o segundo e terceiro trimestres serão negativos. Pensar numa taxa de crescimento de 3% para 2018 virou utopia.

– Com este choque cambial e aumento de juros, nem pensar. Poderemos crescer em torno de 1% – admitiu Marina.

O FMI, disse a economista, “ajudará em termos de liquidez nesse mundo e nesse mercado, mas internamente continuamos tendo problemas que afetam a governabilidade”, entre eles, a pressão do peronismo no Congresso para anular medidas já adotadas.

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